Expectrum Patronum 

Muitas coisas eu aprendi nesses 23 anos de existência. Algumas boas, outras más, e outras que machucam. Essa é uma das que machucam: nunca espere por um segundo, que as pessoas façam por você o mesmo que você fez por elas. Nunca espere o mesmo grau de carinho, de respeito, de gratidão, de compreensão ou de consideração. Não vai acontecer. Cheguei a um ponto que até me sinto uma idiota completa por sequer ter esperança do contrário.

É engraçado como isso se apresenta em uma fórmula pra mim. Eu sempre fui uma pessoa que tinha medo de não agradar, e mais, que não se importava de deixar um desejo próprio de lado para atender o dos outros,  que ao meu ver, sempre eram um pouco mais urgentes. Mais urgentes não por serem de suma importância, mas porque eu simplesmente não me importo de deixar de sair para ficar em casa fazendo companhia a um amigo, de deixar de ler um livro pra atender um telefonema e ouvir sobre os problemas alheios, de ir no cinema quando a amiga não tem dinheiro de ir na balada, de esconder minhas vontades e pensamentos casuais (essa blusa é horrível e você sabe) para não deixar alguém triste. Essas pequenas coisas de pessoas que significam muito parecem tão mais importantes do que algo tão vã quanto as minhas vontades. Não entendam mal, não sou da facção abnegação e respiro altruísmo, eu só não me importo de me apagar um pouco para deixar outra estrela brilhar. Que idiotice.

Em um mundo em que ser individualista vale todo o ouro existente, eu escolho esse caminho. E ai chega o dia, o dia que eu caio de cara em uma lama traiçoeira e movediça que eu mesma criei. Primeiro vem a pergunta x (lembram da fórmula?). “Tudo bem?” para algo que a pessoa fez ou quer/vai fazer. Será que a própria necessidade da pergunta não determina a natureza da resposta? Se realmente tivesse tudo bem, a pessoa saberia e nem precisaria me perguntar. Mas, ela sempre pergunta. E diferente da simples indagação de cortesia que fazemos diariamente quando encontramos alguém (Oi, tudo bem?) não se espera uma resposta positiva. Ou será que as pessoas são tão ingênuas que esperam? Duvido que seja o caso, mas prefiro ter esperanças do que comprovar o descaso da pergunta, como se a pessoa já não soubesse.

E o que eu digo? Letra A) Digo que está tudo bem e retenho aquele sensação de injustiça de que a pessoa está me pondo em uma situação que no passado em situação inversa eu não a puis por medo de machucá-la ou qualquer outro motivo. Sabendo que corro o risco de mais tarde jogar aquilo na cara da pessoa, o que não me parece justo, já que a pessoa vai botar a sua mais completa máscara para dizer: mas, você falou que tudo bem. Letras B) digo que não está tudo bem e passo por uma idiota ciumenta e necessitada, que “cobra” os outros pela dignidade que os demonstrou.

Ambas as respostas trazem sofrimento para mim e pouco importam para a pessoa que pergunta. Então por que? Pra que perguntar? Pra que perguntar se eu me importo de ficar sozinha em casa enquanto você vai pra balada quando eu em um situação inversa fui companheira? Pra que dizer se tudo bem não ter tempo de ouvir os meus problemas quando eu negando minhas vontades e afazeres ouvi os seus? Se eu digo que tudo bem, depois “guardo recentimentos”, se digo que não estou sendo mesquinha e “cobrando”. E qual o problema? A questão não é cobrar, a questão é que depois de tudo que você fez ou deixou de fazer pela pessoa você espera, e somente espera que ela seja um amigo, um namorado, um familiar decente que faça pelo menos um pouquinho do que você fez por ela. Eu não faço boas ações com segundas intenções de receber tudo de volta. Mas, eu e você estaríamos mentindo se disséssemos que não esperamos pelo menos o mínimo de consideração de volta. E eu te digo aqui e agora: você não o terá. No máximo, com a guarda levantada, a pessoa vai dar a resposta Y de que não pediu que você fizesse nada por ela, que não cobrou e que você fez porque você quis. Em um ato de extremo egoísmo e individualidade. Foi-se o tempo em que as pessoas apreciavam as boas coisas que sim, não foram pedidas, mas que você sem necessidade quis fazer em direção a elas. O “você fez porque quis” não devia ter um valor? E um grande valor. Por isso mesmo, eu fiz porque eu QUIS. Não porque você pediu, não porque eu achava necessário, não porque era o certo, mas porque eu QUIS. Eu fiz por você e o que eu ganhei? Um grande monte de nada. Ganhei indignação, egoísmo e desconsideração.

Não faça nada por ninguém porque depois que você ouvir isso acima, ninguém vai chorar com você. No final a única pessoa que vai secar suas lágrimas é você mesmo. Quando os dementsdores baterem na sua janela a congelando, é você sozinho que terá que limpar as lágrimas e conjurar uma memória feliz para afastá-los com um complicado feitiço. Expecto Patronum.

2 Comments

  1. Luma Nunes diz:

    Com o tempo a gente acaba percebendo que a vida é muito simples de viver quando focamos nossas forças em fazer o melhor no dia de hoje, e que tudo está intimamente ligado às escolhas que fazemos.

    Queria te dar um abraço bem forte.

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    1. Obrigada Luma, você é um amor!

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